Era
uma Sexta Feira no final de Setembro de 1991. Final da tarde. Apercebemo-nos
que o sol não estava apenas tapado pelo fumo espesso que subia
da mata mediterrânica. Eram nuvens de chuva vindas do mar. Passado
uma hora começava a chover. O pequeno fogo da véspera, nos Arneiros, tinha sido mal rescaldado. Não há bombeiros de rectaguarda em Portugal e os ventos quentes de Domingo de manhã, fazem fogachos passar a estrada das Necessidades. O incêndio numa zona rural, quase aberta em campos agrícolas, estende-se ao início dos bosques de carvalhos e sobreiros. Não há meios nem capacidade de bloquear o avanço no local onde ele iria chegar. Não há bombeiros de frente de fogo em Portugal. Os bombeiros que temos, os célebres Voluntários, muito deles jovens rapazes e raparigas mal equipados e protegidos, esses "Bravos do Pelotão" apenas conseguem num esforço sobre-humano proteger pessoas e casas. E conseguem, mas muitas estão dispersas e não têm meios próprios de defesa. Quem tem uma casa no meio da floresta deve estar consciente dos riscos que corre quando a faz, da mesma forma que quem constrói junto às praias sabe que tem um casa a prazo. Na floresta, as casas deveriam ter bocas de incêndio e meios de protecção. Caberia às entidades licenciadoras importarem-se com isso e não com mais uma dezena de metros quadrados construídos, com as caves ou com as piscinas que têm que ser projectados como tanques de rega (mas que depois falta fazem como depósitos de água para os helicópteros). E a Arrábida ? A Serra da Arrábida, afinal ?! A Natureza é equilibrada, desta vez foi numa zona completamente distinta. Em resumo, um rescaldo de um pequeno fogo mal feito; uma passagem das chamas por um corredor estreito mas veloz; a necessidade de proteger as populações e as casas; a coordenação (?!); as prioridades num país em chamas. E de novo parte da Arrábida passou de verde a cinzento. Nada de dramas, acima de tudo. O cenário é desagradável, mas também o é quando visitamos um amigo doente, e continuamos a gostar dele e a dizer com toda a convicção: "Vais ficar bom !".
Vai
ser assim com a Arrábida, recuperará a área ardida,
pequena face a toda a sua plenitude e à grandeza que ocupa
nos nossos corações. Não choraremos pelos troncos
queimados, vamos sim assistir emocionados ao rebentar das flores na
próxima Primavera. Deixemos a Arrábida descansar ! Voltar ao indíce de todos os Artigos SAL -->
|