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4
Maio 2007
Jornal PUBLITURIS - Opinião
de José Pedro Calheiros
Turismo Activo
Muito mais que simples aventuras
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"É
necessário que o Turismo de Portugal IP crie uma força
de trabalho neste âmbito, envolvendo os principais intervenientes
e se crie uma estratégia baseada na criação
e promoção de eventos continuados de Turismo Activo" |
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Muitas
têm sido as transformações na indústria
do turismo nos últimos anos, alterando completamente um conjunto
de paradigmas desta área, tanto ao nível da oferta e
da programação bem como das formas de promoção
e comercialização. A grande transformação
foi sem dúvida a meteórica alteração dos
canais de divulgação e informação, fazendo
com que o mais pequeno produtor de oferta turística, no local
mais remoto e com um mínimo de capacidade financeira possa
chegar de forma eficaz aos seus mercados, aos seus públicos,
ao seu cliente final.
O conceito de Turismo Activo é, para muitos, algo que tem a
ver com actividades “radicais”, em que o perigo, o risco
e aventura são factores essenciais ou que envolvem equipamentos
complexos, muitas vezes motorizados, e normalmente direccionadas para
gente aventureira e jovem. Daqui, a única verdade é
que os destinatários devem ser efectivamente jovens, nem sempre
de idade, mas, seguramente, sempre de espírito.
O Turismo Activo, talvez por oposição a um estilo tradicional
de turismo de passividade, é todo aquele em que para o sucesso
de cada actividade é esforçoso o empenhamento completo
do seu protagonista – o participante, o viajante, o turista.
A deslocação do centro de gravidade da actividade turística,
tradicionalmente centrada no prestador de serviço – a
qualidade ou a vista do quarto de hotel, o serviço gastronómico,
o show musical, o sol da praia, as mordomias – para o participante,
faz com que este se sinta parte do projecto. E se temos Turismo Activo
que envolve longos passeios pedestres, descoberta de natureza ou actividades
de exigência física, também temos aqueles em que
os desafios se centram na capacidade criativa, sensorial e emocional,
como os programas ligados à criação artística,
à descoberta de sabores e saberes, ao aprender e ao ensinar.
Em Portugal apareceram nos últimos doze anos, um enormíssimo
leque de empresas com ofertas nesta área. De tal forma foi
importante este sector que reivindicou junto da tutela, através
da PACTA (hoje APECATE), sua associação empresarial,
um estatuto legal face ao vazio que existia e ao facto de, em muitos
casos, ser necessária a clarificação com o sector
tradicional de turismo já instalado de agências de viagens
e operadores. Hoje há um desenvolvimento na elaboração
dos diferentes estatutos e as novas alterações introduzidas
na legislação começam a apontar um caminho possível
de relação entre todos os actores do turismo, podendo
criar relações seguras de trabalho e negócio.
O mercado interno é manifestamente pequeno para a oferta existente,
muitas vezes “envenenada” por ofertas de concorrência
desleal praticadas por estruturas privadas e públicas, como
associações e autarquias, às quais será
sempre difícil criar meios de controlo pelo próprio
estado. Desta forma, teremos de conseguir criar uma oferta global
para o mercado externo e aqui são imprescindíveis alterações
legislativas que, sem ferir o objecto principal dos parceiros operadores
e agências de viagem, proporcionem às empresas de Animação
Turística a possibilidade de oferecer soluções
completas aos destinatários estrangeiros que procurem um Portugal
Activo. A introdução de todos os serviços complementares
de turismo (transportes, alimentação, alojamento, seguros,
…) a um programa de Animação Turística
é da mais básica necessidade, criando assim uma perfeita
reciprocidade de situação com os operadores e agências
que têm na Animação Turística a possibilidade
de ter um serviço complementar de turismo de elevada mais valia.
O Turismo Activo baseia muitas das suas acções no Portugal
bonito, no Portugal natural, no Portugal público. Onde se preservam
os santuários naturais, onde vivem os últimos portugueses
do mundo rural, onde interessa ir conhecer. E muitos destes sítios
apresentam dificuldades de ordem burocrática e de pulverização
de poderes e tutelas, que criam dificuldades acrescidas ao desenvolvimento
das actividades. É necessário um estatuto tutelador
firme para a Animação Turística, exigindo das
empresas uma responsabilidade social plena, mas assegurando um conjunto
de regalias imprescindíveis ao desempenho regular das suas
missões.
Sabendo que muitos dos actuais investimentos turísticos em
Portugal visam a criação de infra-estruturas, baseadas
no conceito de construção e de grande comercialização
imobiliária e que a rentabilidade de muitas empresas de turismo
portuguesas se baseiam em investimentos pulverizados por destinos
estrangeiros de elevada mais valia, temos que notar a dificuldade
de evidência das pequenas empresas de Animação
Turística às quais os pressupostos de crescimento apontados
não se aplicam. Moral da história: Não havendo
dimensão, não há atenção.
E não há uma focal atenção por parte da
promoção turística nacional ao sector. A não
definição de uma estratégia nacional de Turismo
Activo é compreensível, atendendo que os decisores nesta
área são ainda de uma geração anterior
à realidade em causa. Mas há espaço e tempo para
a fazer. É necessário que o Turismo de Portugal IP crie
uma força de trabalho neste âmbito, envolvendo os principais
intervenientes e se crie uma estratégia baseada na criação
e promoção de eventos continuados de Turismo Activo,
distribuídos pelas diferentes áreas de actuação,
pelas diferentes regiões do país e ao longo de todo
o ano. Trata-se de um processo simples, com investimentos reduzidos
e com forte impacto na promoção nacional. No país
há actores comprovadamente seguros para por em prática
uma oferta consolidada de um programa de Portugal Activo. Pelo lado
das empresas de Animação Turística, há
toda a vontade.
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